Ginecologista Obstetra
Especialista em Senologia
HPA Magazine 9
O cancro da mama é uma entidade antiga mas heterogénea, representando uma doença com amplo espectro de potencial biológico. É conhecido desde as primeiras descrições em papiros egípcios no longínquo ano 3000 a.C., mas foi Hipócrates (460-370 a.C.) quem usou o termo cancro para descrever o aspeto do tumor e as suas projeções, a fazer lembrar as patas do caranguejo. Alguns séculos depois, Galeno (130-200 d. C.) determinou que nesta doença pouco havia a fazer, que era incurável, conceito que se manteve por pelo menos mais mil anos.
Só no século XV, no período da Renascença, a medicina começou a ter avanços significativos, na ciência e na arte, como Michelangelo a retratar na sua famosa a escultura "La Notte" uma mulher com cancro da mama, pelo aspeto disforme do seu seio
O cancro da mama deixou de ser considerado uma doença de humores (Hipócrates) e passou a ser encarada como uma doença local, na mama e, depois com raízes para a região axilar e posteriormente para o resto do corpo. Por isso, em grande parte do século XX a remoção loco-regional da doença (mastectomia radical - William Halsted) foi estabelecida como a operação do cancro da mama em todos os seus estádios, quer precoce, quer em fases mais avançadas.
As novas informações acerca da biologia do tumor e o seu comportamento sugeriram que a cirurgia de conservação da mama era tão eficaz como a cirurgia radical (Umberto Veronesi).
Isto aliado aos avanços na radioterapia que evoluiu de 2D para 3D e, para a irradiação acelerada parcial da mama, reduzindo a toxicidade no tecido mamário normal e encurtando a duração do tratamento.
Outro aspeto importante das novas tecnologias radioterápicas é a possibilidade desta terapia poder ser realizada durante a cirurgia e numa só sessão, permitindo que as mulheres beneficiem precocemente do tratamento trazendo-lhes maior qualidade de vida.
O Hospital Particular de Gambelas utiliza esta modalidade desde 2014, considerada uma das técnicas mais inovadoras no tratamento do cancro da mama. A radioterapia intraoperatória evita que a mulher se desloque diariamente a um centro de radioterapia durante cerca de 6 semanas como habitual nestas condições.
Além disso, está comprovado que esta dose única de tratamento aplicada após a remoção do tumor esteriliza as eventuais células tumorais residuais, apresentando menos toxicidade, menos lesões para a pele e áreas adjacentes, beneficiando por isso também o aspeto estético.
A sul de Lisboa, o Hospital de Gambelas é a única unidade de saúde que tem tratado doentes com cancro da mama com radioterapia intraoperatória, demonstrando o seu empenho na inovação tecnológica, mas sobretudo a sua preocupação em participar em todas as possibilidades que possam com efetividade melhorar a qualidade de vida das mulheres com cancro da mama.
Nos últimos 50 anos, especialmente após as observações de Bernard Fisher, o cancro da mama é considerada uma doença sistémica, global e, a sua metastização de certo modo imprevisível. Foi a partir deste conceito que o tratamento sistémico na forma de hormonoterapia, quimioterapia e agentes biológicos se foi impondo e, é atualmente uma modalidade bem estabelecida, mas em constante inovação, no tratamento do cancro da mama.
As perspetivas atuais têm evoluído rapidamente com os crescentes estudos genéticos, moleculares e bioquímicos baseados na estrutura da célula doente, e com isso a aplicação cada vez mais rápida das novas terapêuticas biológicas. As terapêuticas-alvo inibem seletivamente vários mecanismos que originam o crescimento, a invasão e a metastização da célula tumoral. Estes conhecimentos irão certamente fazer diminuir ainda mais o número de doentes que perdem a vida por causa do cancro da mama.
O QUE É A RADIOTERAPIA INTRAOPERATÓRIA
A radioterapia Intraoperatória engloba a administração de níveis terapêuticos de radiação, diretamente no local de onde foi retirado (minutos antes) um tumor da mama. Esta terapêutica é executada imediatamente após a intervenção cirúrgica, enquanto os tecidos ainda estão expostos, poupando a área circundante.
O objetivo é melhorar o controlo local da extração tumoral, contributo importante na taxa de sobrevivência da doente. Por ser executado como ato médico imediato à cirurgia, tem ainda a vantagem dos clínicos afastarem temporariamente os órgãos vizinhos ou protegê-los da exposição à radiação, anulando o risco de que quantidades microscópicas da doença permaneçam. Além disso, este método esteriliza as eventuais células tumorais residuais, apresentando menos toxicidade, menos sequelas para a pele e as regiões mamárias periféricas, contribuindo para aumentar o efeito cosmético.
Os atuais aceleradores lineares miniaturizados móveis são o grande trunfo deste método porque a eficácia biológica relativa dos raios X de baixa energia nas células tumorais é superior quando comparado com os raios X de alta energia, ou raios gama, que são emitidos por aceleradores lineares.
Como a aplicação é pontual, a radiação produzida na sala de cirurgia é inferior, evitando-se a exigência de medidas adicionais protetoras contra as radiações.
HOSPITAL DE DIA DE ONCOLOGIA
O Hospital de Dia de Oncologia do Hospital de Gambelas foi inaugurado em julho de 2011. Desde essa altura, já deu resposta a centenas de doentes e já foram realizadas mais de três mil sessões de tratamento, com destaque para a quimioterapia, imunoterapia, terapêuticas Alvo e hormonoterapia.
Os tratamentos de quimioterapia são comparticipados através de todas as seguradoras e subsistemas de saúde, com os quais o Grupo HPA Saúde tem convenção.
O Hospital de Alvor terá também brevemente um Hospital de Dia Oncológico que funcionará no 1º piso do novo edifico (Edifício B) e aproximadamente nas mesmas modalidades que a Oncologia do Hospital de Gambelas.